quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Escrevi e Não Mandei - Pt. II


Foi assim - Do começo de quase uma década
Eu era ainda uma menina, 13 aninhos na época. Naqueles passeios anuais ao Playcenter promovidos pela escola, com muito custo minha mãe me deixou ir. Lá conheci a amiga de uma amiga da amiga... Enfim! Ficamos amigas! Morávamos perto uma da outra, rolavam aquelas conversinhas casuais de meninas, até surgir o tema "meninos". Eu sempre gostei de garotos branquelos, cabeludos, esquisitos; então esta garota resolveu que eu tinha que conhecer um amigo dela, eu iria adorar. Pronto, meu pé atrás, mas vamos lá. O garoto freqüentava a Gibiteca todos os sábados para jogar RPG. Sábado marcado, lá vamos nós.
Até aí, tudo bem. Eu não fazia a mínima idéia do que era RPG, e nunca soube da existência de uma Gibiteca próxima a minha casa até então. Encontro marcado, as duas presentes, vamos lá - hora de descobrir o que é que acontece. Cheguei ao local, vi um bando de doidos, com roupas pretas, sobretudos e alguns menos esquisitos, correndo pra lá e pra cá, havia também algumas mesas espalhadas, com grupinhos com livros folhas e dados... Eu realmente não sabia o que estava acontecendo. Com aquele corre-corre, aparece o tal amigo. Gente boa, simpático, mas nada que me agradasse; confesso que o que me atraiu ali foi o ambiente, as pessoas diferentes, o bando de doidos. Fui deixando me levar, até que virei mais uma no bando de doidos - freqüentadora assídua.
Não sei como e nem quando, mas lembro que foi ali naquele lugar cheio de gente diferente que eu vi você. A partir de certo momento, eu só via você. Lembro perfeitamente de um dia em que estávamos jogando numa mesa com umas doze pessoas, o seu amigo cabeludo estava mestrando e em uma rodada, o grupo entrou numa caverna, um bicho apareceu, uma parte saiu da caverna, alguns atacaram, outros foram paralisados (inclusive você) e na minha rodada eu tinha q tirar um 6 no dado pra te desencantar. Dado lançado, saiu 6, te salvei. Como naquele tempo todo mundo já sabia da quedinha um pelo outro, houve uma cutucação, uma euforia, um clima de "agora vai"... Mas não foi. Ficou só ali mesmo. Emocionante.
O tempo foi passando e aquele lugar virou segundo plano. Não que eu não gostasse mais de jogar , muito pelo contrario, eu adorava, mas eu preferia muito mais ir ali pra ver o menino dos olhinhos pequenos, que fazia curso de japonês e que tinha o sorriso mais bonito do mundo. Só eu sei o que acontecia comigo quando eu via você por perto... Na verdade, nem sei o que acontecia, mas sim, eu sentia as fabulosas borboletas no estomago. Era impossível segurar o sorriso, e eu sabia, mesmo sem me olhar no espelho, que quando te via a minha expressão mudava. Ali eu aprendi que a gente só consegue esconder o que é tátil. O que vem de dentro da gente, é impossível de controlar.
Em um desses muitos sábados, o pessoal resolveu juntar os trocados e ir ao Playland, no shopping. Saímos de lá e fomos em um bando de adolecentes, daqueles que hoje em dia quando eu vejo na rua, dá até medo.  Aquele monte de meninos, eu e a amiga de meninas. Chegando ao Paço, todo mundo resolveu atravessar a avenida pela passarela - minha tortura. Eu sempre tive medo de altura; não gosto de pontes, viadutos, passarelas... Nada que seja suspenso. Então, como sempre ao meu lado, surgiu você, me puxou pra baixo do seu braço e falou "Vem aqui que não vou te deixar cair. É só não olhar pra baixo... Já tá acabando!". Nada melhor poderia ter acontecido, naquele friozinho, aquela passarela cheia de vãos, só mesmo você pra tentar acalmar uma medrosa com aquele sorriso lindo. Foi a única vez que gostei de atravessar uma passarela.

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