domingo, 12 de fevereiro de 2012

Borboletas



Quem nunca sentiu aquelas malditas borboletas voando sem destino dentro do estomago que me crucifique. Eu as sinto, sempre, em períodos inoportunos, em momentos que elas não deveriam nunca sobreviver aos meus sucos gástricos. Já tentei matá-las por diversas vezes, afogando-as em minha gastrite. Mas nem por um minuto as bichinhas deixaram de voar. É sempre assim, quanto mais tento matá-las afogadas, mais as borboletas voam, e mais dor e dor eu sinto, um soco na boca do estomago.

Malditas borboletas, quando penso que está tudo bem, la vem elas de volta encher meu estomago de incertezas e vontades subitas de resolver aquilo que já está solucionado e morto num baú velho, onde tudo deveria ficar esquecido. Malditas borboletas que acordam justamente quando eu paro e penso “bem, agora acabou, posso viver e esquecer que tudo aquilo já se passou. Posso seguir adiante que nada mais afetará meu futuro e meu modo de agir.”, e quando me dou conta, elas acordam enquanto eu durmo e reviram meu estomago, e bagunçam aquele baú velho que jaz esquecido, em estado de decomposição, volta a saltar meus olhos e dizer que ainda há coisas para organizar antes de trancá-lo e jogá-lo fora.

E assim as borboletas reavivam a vontade de tornar a vida como era antes, antes de fazer as escolhas erradas (ou certas, dependendo do ponto de vista), antes de machucar os outros pensando que esta seria a melhor opção para machucá-los menos em um curto prazo para uma longa convivência. Antes mesmo de me machucar mais em um curto prazo, sem saber o tormento que carregaria pelo resto da vida... E dormir com certezas de que tudo passou, hoje é um tormento que acorda as borboletas para mostrar-me que na verdade, as coisas ainda podem mudar. Acorda Amelie, esse seu coração vai ficar seco e duro e vai se quebrar inteiro se deixar a vida passar desse jeito.

Isto que acontece me remete ao mundo das drogas, dos vícios. Uma pessoa que consumia drogas há 10 anos atrás não deixou de ser viciada, deixou somente de consumir aquilo que aparentemente a fazia feliz, e hoje vive um dia após o outro pensando que aquilo lhe fazia mal, mas ainda assim, sente falta, sente vontade de experimentar de novo, de sentir as mesmas sensações daquela época. Porem ela sabe que isso pode destruir sua vida e acabar com tudo. É a mesma sensação que eu sinto, por uma pessoa que eu queria nunca ter encontrado na minha vida, para que hoje eu não sentisse como eu sinto.

As recaídas... Sempre tão cruéis, frias. E quando eu busco pela minha droga, fica a sensação de vazio, a sensação de ter feito a coisa errada ao procurar. E já faz tanto tempo isso, já era até pra ter deixado de existir vestígios, pois nada do que aconteceu, de fato, realmente aconteceu. Tudo não passou de um “se”, e como foi, ficou; e deveria já ter deixado de fazer importância. E eu me pergunto, quando de fato, tudo o que não aconteceu passará a deixar de ter importância? Talvez quando as borboletas morrerem enfim sufocadas, com suas asas corroídas de magoas e vontades, já sem aquele brilho que antes tinham, que tanto me encantavam os olhos em sonhos desesperados que buscavam por ele.

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